O mês de outubro chegou e Ana estava prestes a enfrentar o campeonato nacional. Na escola a garota estava indo bem apesar do cansaço. O tempo para estudar e fazer trabalhos era dividido com Zac, o que não mudou tanto já que sempre estavam juntos mesmo antes do namoro.
- A minha mãe te convidou para almoçar lá em casa hoje, a gente aproveita e faz o trabalho de história. – Zac falou com Ana.
- Então é melhor eu avisar em casa que não vou almoçar, a Lica me mata se ela fizer almoço e eu não estiver lá. – ela pegou o celular que ganhara dos pais de aniversário e ligou para casa.
Depois da aula, Ana e Zac foram para a casa dele. A mãe dele sempre gostou demais de Ana e agora que eles estavam namorando, Nádia, como ela se chamava, fazia questão de receber a garota em casa sempre que possível. Ana Clara gostava de ajudá-la a preparar o almoço toda vez que ia pra lá, normalmente no fim de semana. Porém era quinta-feira, e Nádia trabalhava no período da tarde, então quando chegaram o almoço já estava pronto.
- O Zac me disse que vocês estão fazendo um mês de namoro hoje. Parabéns! – Nádia falou.
Ana quase se engasga com a comida, ela não tinha se lembrado que já era três de outubro. Ela olhou para Zac que percebeu na hora que ela havia esquecido. Ele apenas sorriu e Ana se sentiu ainda pior.
- Passou tão rápido, me lembro de vocês dois quando estavam no primário, brigavam por tudo. – Nádia continuou.
- A gente ainda briga. - disse Zac.
Ana achou que ele falou aquilo só para provocá-la por ter esquecido a data. Mas eles não falaram mais sobre isso e logo depois do almoço Nádia foi para o trabalho e os dois arrumaram a cozinha.
- Zac, foi mal, com essa correria eu acabei me esquecendo. – Ana tentou se explicar guardando o último prato no armário.
- Não tem problema. – ele abraçou as costas de Ana e beijou o pescoço dela.
- Acho que vou esquecer mais coisas, se vou ser tratada sempre assim. – Ana se virou para ele e o beijou.
Os dois fizeram o trabalho de história depois de arrumarem a cozinha e foram ouvir música no quarto dele. Ele havia prometido copiar o cd de uma banda que Ana gostava.
- Nossa, essa música aqui, - disse Ana apontando para a tela do computador. – é antigona.
Zachary clicou no título da música e começou a tocar:
Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável
É dor incrível...
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável
É dor incrível...
- É do Skank, não é? – perguntou Ana.
- É sim, quer dançar? – Zac levantou da cadeira e pegou Ana pelo braço antes que ela dissesse qualquer coisa.
Os dois começaram a dançar bem juntinhos, Zac segurou o queixo de Ana e a olhou com o rosto mais apaixonado que ela já tinha visto. Ele ficou encarando-a como se quisesse que ela entendesse tudo o que ele estava sentindo só pelo olhar e finalmente disse com a voz rouca, num sussurro:
- Ana Clara, eu te amo!
O coração dela disparou. Durante todos esse anos, Ana e Zac volta e meia diziam um para o outro que se amavam. Mas dessa vez era diferente, não era um amor fraternal que eles estavam sentindo e tudo o que Ana conseguiu dizer foi:
- Eu também.
Eles se abraçaram mais forte agora e Zac começou a beijar Ana. Primeiro na testa, em seguida no olho, na bochecha, no nariz, no queixo e finalmente nos lábios. Ana sentia o corpo tremer e dessa vez ela não quis parar. Beijou o pescoço de Zac e foi fazendo exatamente da mesma forma que ele, até chegar aos lábios novamente. Ficaram ali em pé por longo tempo, até que Zac se afastou e olhou para o relógio.
- Caracas! O treino do basquete já deve ter começado. A gente tem que ir. – ele falou e suas mãos estavam trêmulas como as de Ana.
Duas semanas depois Ana Clara estava no hotel em Belo Horizonte, ansiosa, pois no dia seguinte ela e Pedro fariam sua primeira apresentação no Campeonato Nacional de Patinação Artística. Naquele ano o campeonato seria realizado no Iate Clube da cidade.
- Relaxa Ana Clara. Vai dar tudo certo, vamos fazer o melhor. – Pedro tentava animá-la.
- Eu sei, só queria me sentir tão segura quanto você. – Ana sentou ao lado do rapaz.
- Não estou te entendo. Você é a melhor patinadora que eu conheço e provou isso no brasiliense.
- Mas ficamos em segundo lugar. – ela disse desanimada.
- Por isso nós treinamos tanto, para aperfeiçoar o que precisava. – Paula sentou-se junto deles.
- Me desculpe, eu não devia estar assim. – falou Ana.
- Exatamente. Nessa altura do campeonato eu achei que você já soubesse o óbvio. Somos a dupla perfeita. – brincou Pedro.
Ana sorriu e disse:
- A dupla perfeita: o metido e a cabeça dura.
- Acertou de novo. – Pedro se levantou e a puxou. – Venha, vamos descontrair um pouco! Que tal uma dança livre?
Ele ligou o som e escolheu um rock pesado para dançar, em um salão do hotel, onde eles repassavam a apresentação sem os patins. Ana começou a rir dele que não parava de girar e saltar ao ritmo da música. Ela começou a imitá-lo, fazendo os mesmos movimentos que ele.
No dia seguinte, Ana chegou ao Iate Clube junto com sua mãe e Zac, Pedro e Paula já estavam lá. Eles tinham que comparecer na ala organizadora para se certificarem do horário que iriam se apresentar.
A competição começou naquele dia às duas da tarde e trinta duplas iriam se apresentar. Ana e Pedro seriam a décima segunda dupla. Pedro estava vestido ao estilo surfista, sua calça imitava uma bermuda, pois do joelho para baixo era da cor da pele e a blusa era florida. Ana Clara vestia um maiô florido e a saia lembrava uma saída de banho.
- Agora são vocês. Vão com tudo! – disse Paula confiante.
Ana fechou os olhos tentando se concentrar e Zac beijou sua bochecha e disse:
- Boa sorte linda.
- Obrigada.
Ana e Pedro deram as mãos e entraram na arena, cumprimentaram os juízes e o público e foram para o centro. A música começou e os dois começaram a coreografia graciosamente. Cada passo e movimento eram perfeitos, até mesmo nos saltos eles estavam sincronizados. Ana tomou distância e correu ao encontro de Pedro que a ergueu e girou com ela no alto perfeitamente. A música encerrou e os dois mal conseguiam acreditar que foram tão bem. Abraçaram-se, saudaram o público e saíram da arena para aguardar a nota.
Naquele momento Ana não cabia em si de contentamento, das doze duplas que já haviam se apresentado, inclusive a outra dupla da cidade que no brasiliense ficou em primeiro lugar, eles foram os primeiros colocados. As duplas seguintes se apresentaram e no final daquele dia Pedro e Ana Clara estavam na terceira colocação. Eles teriam que ser perfeitos no programa longo que aconteceria no dia seguinte.
Ao saírem de lá, Ana preferiu ir direto para o hotel, pois queria descansar. Zac foi com ela. Ana tomou um banho e colocou um moletom bem quentinho, porque a noite estava muito fria. Zac tinha pedido uma macarronada para ela e estava sentado na cama dela com o prato na bandeja.
- Sua mãe disse que é pra você comer tudo. – ele ofereceu a bandeja para ela.
Ana sentou-se na cama e pegou a bandeja.
- Você não vai comer? – ela perguntou.
- Eu já comi.
Zac começou a fazer massagem nos pés de Ana. Ela terminou de comer e colocou a bandeja no chão. O rapaz continuou fazendo massagem em seus pés. Ana estava sentindo-se cada vez mais relaxada e pediu para que ele chegasse mais perto dela. Zac foi subindo, massageando seus tornozelos, a panturrilha, as coxas e começou a beijá-la. Eles ficaram abraçados até Ana adormecer e Zac acabou caindo no sono também.
Na manhã seguinte Ana acordou no susto ao ver Zac deitado ao seu lado dormindo. Ela levantou e correu para o quarto da mãe preocupada que ela pudesse tê-los visto na cama.
- Bom dia filha. Dormiu bem? – Luísa perguntou.
- Dormi.
- O Zac ainda está dormindo?
- Está. A senhora o viu no meu quarto? – Ana perguntou assustada.
Luísa começou a rir ao ver a preocupação da filha.
- Claro que vi Ana. Eu fui até o quarto para ver se ele já tinha ido para o dele e os vi dormindo e não quis acordá-lo.
- A senhora não se importou dele ter dormido no meu quarto?
- Filha, vocês estavam exaustos, tenho certeza de que nada aconteceu. Já são dez horas, vá acordá-lo porque você tem que estar no Iate meio dia. – recomendou a mãe.
Ana foi ao banheiro escovou os dentes, lavou o rosto e voltou para seu quarto. Ela ficou observando Zac dormir por um tempo, se sentou ao lado dele e começou a beijá-lo no rosto. Ele abriu os olhos e pareceu não acreditar que estava vendo Ana.
- Eu estou sonhando? – ele perguntou.
Ana sorriu e disse bem pertinho do ouvido dele:
- Não. Você realmente está deitado na minha cama e você dormiu aqui.
Ele deu um pulo quando Ana falou e ela deu uma gargalhada.
- Seu pai vai me matar! - exclamou o garoto.
- O meu pai nem está aqui Zac e minha mãe te viu aqui ontem a noite e não viu problema algum.
- Sério?
- Sério. Agora temos que tomar café, porque já passam das dez e tenho que estar no clube meio dia. – ela foi empurrando o rapaz para fora do quarto enquanto falava.
Eles tomaram café, Ana tomou um banho e foram para o clube. Pedro e Ana seriam a vigésima dupla a se apresentar. Isso aconteceria por volta das cinco da tarde, por isso foram almoçar tranquilos. Depois do almoço Ana e Zac resolveram dar uma volta pelo clube, antes de voltarem para o ginásio. Eles pararam na marina e ficaram observando os barcos que saíam de lá para o lago. Zac a abraçou e disse:
- Seria legal navegar em um barco desses, não acha?
- Acho que no mar deve ser muito mais legal.
- Então vamos combinar o seguinte, daqui dez anos a gente programa um passeio de barco. – Zac falou com uma certeza como se estivesse falando de um passeio para o dia seguinte.
- Daqui dez anos? É tempo demais não acha não? – Ana disse sorrindo.
- Não. Ou você acha que consigo um barco desses antes disso? Uma coisa de cada vez, a garota perfeita para me fazer companhia eu já tenho, mas ainda tenho que ralar muito até lá. Em dez anos eu serei um economista com três anos de carreira, aí é torcer para que eu tenha sorte.
Ana sorriu e disse:
- E eu espero ser uma patinadora reconhecida e quem sabe até uma arquiteta, ou uma estilista. Agora vamos voltar para a realidade, porque eu tenho uma competição para ganhar.
Ana trocou de roupa e foi encontrar Pedro, que já estava pronto. Os dois estavam com as roupas na cor azul, com detalhes em tom areia, remetendo a ideia de mar. Eles entraram na arena e deram o melhor deles, não tiveram tantos erros aparentes e levantaram o público. Saíram da arena esperando pela nota e ficaram na segunda colocação, mas ainda havia duas duplas com possibilidade de medalha que ainda não tinham se apresentado. Portanto eles teriam que aguardar.
A primeira dupla a se apresentar estava indo muito bem até que o rapaz caiu ao tentar um salto.
- Ótimo! – disse Pedro. - Agora só o Bruno e Camila podem nos tirar o segundo lugar.
- Não tenho tanta certeza, os juízes podem ter gostado deles, eles foram geniais. – Ana falou sem querer cantar vitória antes da hora.
Mas Pedro tinha razão e os juízes descontaram muitos pontos pela queda desse primeiro casal. Bruno e Camila, o casal que estava na briga com eles, foram perfeitos e tiraram o segundo lugar de Ana e Pedro, que terminaram a competição com a medalha de bronze.
Ana Clara estava completamente feliz, alcançara o objetivo que tanto almejou, estava no pódio de uma competição nacional e no ano seguinte poderia participar do mundial, mas isso dependeria de novos patrocínios e até mesmo se Pedro iria continuar trabalhando com ela.
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