quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nina - Setembro de 1998


''Às folhas tantas 

do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia 
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, 
corpo retangular, seios esferóides.'' Millôr Fernandes 


Setembro de 1998.

Nina: Cara, eu não aguento mais essa aula!
Joana: Nem me fale, não sei pra quê a gente tem saber essa tal fórmula de bhaskara. 
Nina: Ainda bem que hoje é sexta!
Joana: Vai lá pra casa?
O sinal tocou, Nina amassa o papel em que estavam conversando, e as duas saem apressadas para irem embora.
- Nina! - um garoto chama do fundo da sala.
- Oi namorado! - Nina sorri abobalhada para Bruno, seu namorado.
- O que acha de irmos ao shopping mais tarde? - ele pergunta.
- Legal. Você vai né Jo? - Nina pergunta para sua melhor amiga e prima.
- Vou nada. Vai passar um show hoje na MTV que eu não perco por nada. Achei que você iria lá para casa.
Nina, olha para Joana, olha para Bruno, e não sabe o que decidir. Ela realmente queria assistir ao show, mas também queria sair com Bruno.
- Nós podíamos ir para o shopping alí pelas duas da tarde, o que acham? Assim voltamos cedo. – Nina aguarda pela resposta.
- Antes das sete, né? – Joana responde com outra pergunta.
- Por mim tudo bem. Nina, o que acha de almoçar lá em casa? – Bruno.
- Sabe que não posso Bruno. – faz cara de triste.

Nina e Bruno namoravam há alguns meses, na maior parte do tempo nas dependências da escola em que cursavam a antiga oitava série (entendam namorar aqui como um casal que tem muito o que conversar, se abraçam, andam de mãos dadas e trocam beijinhos vez por outra – Nina ainda nem tinha quinze anos minha gente!). E seus  pais não permitiam que namorasse antes dos quinze anos. Ops! Idade essa, que completaria em poucos dias. Nina não quis uma grande festa de aniversário, como a maioria de suas amigas vinha fazendo, inclusive sua prima Joana. O que ela queria mesmo era viajar para Inglaterra nas férias de final de ano para participar de um intercâmbio que a escola de música em que estudava oferecia por quase dois meses. Quem não estava muito feliz com essa viagem era Bruno.
Nascida em uma família de classe média, Nina aproveitou todas as oportunidades que lhes eram oferecidas. Nessa idade, ela já era uma exímia guitarrista, apaixonada pelo universo musical, e esse intercâmbio era sem dúvida uma ótima oportunidade de aprendizado, bem como conhecer pessoas (outra coisa que Nina gosta muito, conhecer gente).

''Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.
(...)Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.'' Cecília Meireles
















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