domingo, 5 de fevereiro de 2012

And I Waited - Capítulo 3

Galocha xadrez

Amanheceu chovendo e a última coisa que Ana queria era ter que levantar. Ás sete horas de uma manhã de sábado, lá estava Ana debaixo do chuveiro quente para se esquentar. Vestiu-se no banheiro, já que não estava em sua casa e também para curtir o vaporzinho quente antes de sair para o dia nublado e chuvoso. Entrou no quarto de Fernanda, pegou suas coisas em silêncio para não acordar a amiga e saiu do apartamento.

Estava feliz por não ter esquecido de trazer seu guarda-chuva que parecia uma bengala de tão grande e também por ter lembrado de colocar sua galocha xadrez preferida, na mochila. E assim Ana Clara seguiu até a padaria, vestindo leg e regata pretas, com um casaco de nylon e algodão e calçando sua galocha. Tomou café e foi para a escola.

Por causa do frio, a treinadora Paula sugeriu que eles começassem o aquecimento na academia que ficava na parte de trás do ginásio. Assim eles poderiam treinar também os movimentos que Pedro tem que erguer Ana no ar.

- Você acordou inspirada hoje? – perguntou Pedro com ironia, olhando para as botas de Ana.

- Tá com inveja da minha inspiração é? Sinto muito, mas elas não cabem no seu pé. – Ana sorriu para o garoto, que ficou feliz com o bom humor dela.

Os dois malharam por meia hora e começaram a treinar os levantamentos de Ana. Paula colocou vários colchonetes para protegê-los, já que os tombos eram inevitáveis. Ana não estava conseguindo manter o corpo ereto por mais de dois segundos, o que dificultava bastante para Pedro que acabava não conseguindo mantê-la erguida. Continuaram insistindo até que Ana Clara conseguiu ficar firme no alto. Por volta de dez e meia eles voltaram para o ginásio e calçaram os patins. Mas não fizeram os movimentos de levantamento de Ana. Ela não estava segura para fazê-los sobre os patins.

Na hora do almoço os pais de Ana chegaram para buscá-la e Zac estava com eles para surpresa de Ana.

- Adotaram um menor abandonado, foi? – zombou Ana.

- Rá! Muito engraçado. – debochou Zac.

- Zac nos ajudou com a mudança. – explicou Elias.

- Bom garoto. – Ana deu dois tapinhas nas costas do amigo.

Eles almoçaram em um restaurante e seguiram para o novo apartamento. Ana correu para seu quarto e ficou feliz de sua cama estar arrumada. Zac parou na porta do quarto, restrito pela barreira invisível. 

- Fui eu que montei. – falou todo orgulhoso.

- Então é melhor eu me levantar. – Ana deu um pulo da cama e parou na frente dele.

- Está engraçadinha hoje.

- Entra logo. – Ana pegou Zac pela mão e levou para sentar na cama dela.

- Tá maluca é? – ele se levantou e foi para a porta.

Ana foi até o corredor e chamou a mãe, que apareceu na porta ao lado do quarto de Ana.

- Mãe, foi o Zac que montou a minha cama?

- Foi sim filha e levou todas as suas coisas para o quarto. – explicou Luísa.

- Então ele pode entrar no meu quarto, certo?

A mãe ficou sem saber o que responder, e Jorge apareceu no corredor e disse:

- Hoje o Zac pode entrar no seu quarto.

O garoto ficou super envergonhado com aquela conversa. Até parece que ele iria agarrar Ana se eles ficassem sozinhos no quarto dela. E em todos os outros lugares? Pensou ele.

- Sabe, hoje de manhã eu fiquei me perguntando como foi que eu cheguei ao quarto da Fê. Eu não me lembro. – comentou Ana.

- Eu tentei te acordar, mas você estava dormindo igual a uma pedra. Aí eu te levei para a cama.

-Sério? E a minha mãe preocupada de você entrar no meu quarto. – Ana começou a rir.

- Eu estava pensando a mesma coisa. – ele riu também.


O fim de semana passou voando, com tanta coisa que Ana tinha que organizar em casa. Na terça-feira à tarde ela foi para o treino de handebol decidida que iria pedir para sair. Ela estava muito envolvida com a patinação e sabia que na época das provas não iria conseguir conciliar tudo. Ana sempre amou jogar handebol, era sem dúvida um de seus esportes preferidos, mas patinar era um objetivo de vida que ela traçou ainda muito pequena. E esse teria que ser mais um de muitos sacrifícios que viriam. O professor André não ficou nenhum um pouco satisfeito com a desistência de Ana. Mas ele entendeu que ela tinha outras prioridades. Quem ficou feliz com a notícia foi Renata que passou a ser a goleira titular.

Quase um mês depois de Ana ter saído do time de handebol, aconteceu o primeiro jogo do campeonato interescolar. Em um sábado à tarde a escola estava toda animada, pois iriam ser os anfitriões do jogo. Fernanda jogou e foi a artilheira do time e o Santa Inês ganhou de quinze a nove. Depois do jogo Ana foi com uns amigos comemorar em uma lanchonete perto da escola. Ao chegar à lanchonete Ana encontrou Pedro, e foi engraçado para ela vê-lo fora do ginásio, junto com um grupo do 1º ano. Eles praticamente só se falavam no ginásio e Ana quase não o via no intervalo.

Ana sentou em uma mesa com Fernanda, Priscila, Mateus e Zac. A garçonete perguntou o que eles iriam querer e cada um disse o que queria. Toda vez que Ana olhava para a mesa em que Pedro estava, ele também estava olhando para a mesa dela. Isso ficou rolando na meia hora seguinte, até que Pedro se levantou e foi em direção à mesa de Ana. Ela sentiu seu coração acelerar.

- Oi gente! – Pedro cumprimentou a todos, virou para Fernanda e disse. - Ótimo jogo.

- Obrigada. – Fernanda agradeceu.

- Ana o pessoal está armando de ir lá pra minha casa depois de sairmos daqui. Quer vir conosco? – perguntou Pedro.

- Não vai dar Pedro, mas obrigada. – Ana tentou falar da forma mais casual possível.

- Se mudar de idéia, todos estão convidados. – Pedro voltou para a mesa dos colegas.

- Ana, sua burra! Porque você disse não? – Fernanda perguntou indignada.

- Porque eu iria querer ir para casa do Pedro? Eu mal conheço os amigos dele.

- Mas nós também iríamos. – retrucou Fernanda.

- Não sei se minha mãe me deixaria ir. – Ana falou envergonhada.

- Acho que ela não vai deixar. –disse Zac enfatizando o não.

Eles acabaram não indo de fato e Ana nem se atreveu a pedir á mãe. Na semana seguinte o treino foi se intensificando, ela e Pedro estavam cada vez mais entrosados. Executavam os movimentos mais sincronizados e os levantamentos estavam melhorando, já sobre os patins.

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